"Mirror, mirror, in my hand,Who's the fairest in the land?"
Uma das histórias mais famosas da tradição oral alemã coletada pelos Irmãos Grimm entre 1812-1822 , sobre uma jovem branca como a neve, de lábios rubros como o sangue e cabelos negros como ébano, provavelmente foi inspirado em uma princesa alemã que viveu no século XVI, chamada Margarete Von Waldeck, que vivia em uma região mineira, onde era comum ver-se crianças pequenas, que ficaram conhecidas como "anões" de mina, devido à subnutrição e condições em que trabalhavam.
waaaat?!
Conta-se que a princesa fugiu de sua casa por conta de desentendimentos com sua madrasta e acabou indo para Bruxelas, onde conheceu o príncipe Felipe II da Espanha, com quem se casaria, se não tivesse morrido misteriosamente aos 21 anos de idade, provavelmente envenenada. Outra personagem histórica que provavelmente inspirou Branca de Neve ou em alemão 'Schneewittchen' nasceu em 1729 no castelo de Lohr, na Alemanha. Maria Sophia Margarheta Cataharina Von Erthal (figura acima), igualmente maltratada por sua madrasta, - que ganhou um belo espelho de casamento, hoje exposto no Museu Spessart - também resolveu fugir, percorrendo as montanhas de Spessart, embrenhadas na floresta, até chegar à casa dos 'anões'.
Seria essa personagem uma espécie de Eva expurgada do paraíso por provar do fruto da sexualidade? (aludido pela beleza e jovialidade tão cobiçadas por sua madrasta)
Não sei, mas se você acha que as histórias infantis do século XIX eram bonitinhas e inocentes, sinto muito, queridinhx, mas elas envolviam canibalismo, estupro e outras cositas más.
Na história dos alemães, escrita em 1812, por exemplo, a madrasta pedia ao caçador que trouxesse mais outros vários órgãos vitais da Branca além do coração, que ela pretendia comer. Pra se vingar, a heroína condenava a bruxa à dançar eternamente com sapatos de ferro em brasa.
A primeira versão live-action para o conto de fadas foi um filme mudo de 1916, dirigido por J. Searle Dawley e adaptado para a tela por Winthrop Ames que utilizava o pseudônimo de 'Jessie Graham White') a partir de sua peça para a Broadway.
Temos aqui algumas peculiaridades; a Rainha Má não é a mesma personagem da Bruxa, que a auxilia a realizar seus desejos em troca do coração da princesa, vivida por Marguerite Clark, o caçador é amigo de Branca de Neve e a primeira tentativa de envenenar a 'mais bela de todas' dá-se através de um pente enfeitiçado.
Filme nº 110: Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White and the Seven Dwarfs)
Ano: 1937
Diretores: William Cottrell, David Hand, Wilfred Jackson, Lary Morey, Perce Pearce, Ben Sharpsteen
Duração: 83 min
Quando Disney anunciou que faria um longa-metragem animado, foi duramente criticado pela mídia, que viram a ideia como uma grande "tolice", já que não acreditavam que o público pudesse se interessar por sequências coloridas que durassem mais de uma hora e piadas exaustivas.
O produtor não só mostrou-lhes o quanto estavam errados, como criou uma incontestável obra prima do cinema mundial, arriscando sua reputação inclusive entre sua família que o via como louco. Inspirado por filmes de horror da época, como Nosferatu (1922), O Gabinete do Doutor Caligari (1920) e O Médico e o Monstro (1931), Disney resolveu manter o clima sombrio do conto (vulgo passeio na floresta e bruxa se transformando em velhinha do capeta), além de ter sido influenciado também por Romeu e Julieta (1936) para as cenas de romance entre o príncipe e a princesa.
Funcionou bem demais até, pois os censores britânicos acharam o filme assustador o suficiente para telespectadores jovens assisti-lo somente acompanhados por um adulto. Eu era uma que corria atrás da minha mãe quando a bruxa começava a remar aquele barquinho.
Ainda tenho medinho, confesso.
Milhares de teorias surgiram sobre os nomes e número dos anões, incluindo uma formulada pelo historiador Mitchell Stephens,
que os liga à efeitos de drogas como a cocaína.
Um combo de artistas talentosos, escritores e diretores se empenhou na animação, primeiro longa-metragem completamente desenhado em células, com cada quadro criado manualmente.
O artista conceitual Albert Hurter (1) era autoridade primária no design do longa e tudo que era incluído no desenho precisava ter sua aprovação antes de ser finalizado. Outras importantes contribuições para o visual do filme vieram de Ferdinand Hovarth (2) e Gustaf Tenggren (3), além de Joe Grant (4), responsável pelo conceito e forma da Rainha Má.
(2)
Quando Branca de Neve e os Sete Anões ganhou o Oscar, foi premiado com uma estatueta de tamanho normal e outras sete em miniatura, representando os personagens, entregues por Shirley Temple, estrela mirim de vários filmes da época.
Infelizmente não consegui assisti-lo, pois não achei nenhuma versão com legendas.
O roteiro, no entanto, não se desenvolve bem nem empolga quem assiste e muitas vezes as cenas forçadas de comédia são bastante absurdas (o que é aquele tratamento de 'beleza'?). Além de Julia Roberts não convencer como Rainha Má (o que fica claro já no inicio do filme com uma narração medíocre) e o príncipe ser bem chatinho, aparentemente, Lily Collins tenta desempenhar uma Branca de Neve mais astuta e feminista, mas isso não dá muito certo também, nem aquele final ridículo em que resolveram dar uma música pra ela cantar.
Talvez o que salve o filme, pelo menos em parte, são os anões, os únicos que conseguem desempenhar boas atuações e serem engraçados de verdade.
Ainda no mesmo ano, foi lançado Branca de Neve e o Caçador, de Rupert Sanders, protagonizado pela 'sem muito sal' ou expressões Kristen Stewart. Mas quem rouba a cena é a fascinante Charlize Theron (Terra Fria), encarnando a terrível feiticeira Ravenna, que não mede esforços para ser a mais poderosa e 'bela de todas'.
Apesar de não ter sido recebido de forma acalorada pelos críticos, a produção fez um ótimo trabalho com as sequências de ação e efeitos especiais, além dos figurinos memoráveis de Colleen Atwood e direção de arte (a mesma de Deixe ela entrar). Ah, aplausos para a trilha sonora de James Newton Howard e a poderosa Breath Of Life composta e interpretada pela maravilhosa Florence Welch.
Você, é claro, mon'amour,
Ainda temos uma heroína que não apenas lava e limpa e fica assustada na floresta, mas se impõe à la Joanna D'arc e reúne seus súditos para salvar o reino da mulher que assassinou seu pai e roubou seu trono.
Masoq?!
Ano:2012
Diretor: Pablo Berger
Duração:104 min
Essa improvável e merecidamente aclamada versão do conto dos Irmãos Grimm nos transporta para a Sevilha dos anos 20, em meio a touradas e tragédias, quando Antonio Villalta (Daniel Giménez Cacho), um famoso toureiro, sofre um acidente e perde sua mulher (Inna Cuesta) no parto de sua filha. No hospital ele conhece a enfermeira ambiciosa Encarna (Maribel Verdú).
A cereja no bolo, ou a maça mais lustrosa da vez é Blancanieves, ofuscando qualquer adaptação anterior.
Escrito e dirigido pelo espanhol Pablo Berger, o longa mudo em preto e branco, converge muito bem entre drama, aventura, romance, suspense e humor negro. O ritmo da história é fluído e muito bem conduzido por seus personagens, incorporados por excelentes atores, extremamente expressivos; Tanto que não sentimos falta de diálogos em momento algum da narrativa.
O diretor diz ter se inspirado principalmente em Tod Browning,
lembrado pelo polêmico Freaks (1932), o que fica óbvio na criação da trupe itinerante de anões e nas cenas de circo no final. O filme também não deixa de evocar as delicadezas perpetuadas por Charles Chaplin em seus clássicos, sendo segundo o próprio Berger uma "carta de amor para o cinema mudo Europeu", especialmente ao francês. Declarado apaixonado por Abel Gance, responsável por obras como J'Accuse! (1919) e Napoleão (1927), ele ainda cita nos créditos finais outros mestres da era dourada dos filmes silenciosos, como F.W. Murnau, Marcel L' Herbier, Julien Duvivier, Carl Theodor Dreyer, Victor Sjöström e Anthony Asquith.
(1)
Aparentemente Blancanieves surgiu de uma fotografia (1)
de anões toureiros presente na obra España Oculta (1989), de Cristina Garcia Rodero, na qual a fotógrafa retrata de forma magnífica e crua a persistência de tradições rurais, como ritos religiosos e festivais no país. Dá pra conferir um pouco do trabalho da polêmica artista pelo mundo aqui.
(2)
Os atores posam em uma reprodução (2) da foto original, exibindo seus trajes usados em apresentações pelos '6 enanitos', que salvam a protagonista e tornam-se sua nova família, batizando-a a partir da bela personagem dos contos de fada. Destaque para o "zangado" Jesusín (Emilio Gavira), a transsex Josefa (Alberto Martínez), e o galante Rafita (Sergio Dorado), um recompensador substituto ao 'príncipe encantado'.
Dá pra ver que Pablo Berger levou à sério as influências do olhar peculiar de Rodero, criando um ambiente visual tão místico e peculiar quanto o retratado pela artista espanhola, beirando o bizarro e o grotesco. Ela mesma defende que "Em P&B há um certo mistério, porque é diferente da realidade. As cores nos distraem, e perdemos a profundidade."
Cristina Garcia Rodero
A relação entre a avó Doña Concha, vivida por Ángela Molina e a jovem Carmen, interpretada pela encantadora atriz mirim Sofía Oria, consegue envolver-nos calorosamente; Assim como o reencontro com seu pai (Cacho), após uma sequência de 'esconde-esconde' com seu galináceo-amigo Pepe.
A produção não deixa de lado os tons obscuros do mito original,
presentes por exemplo nas cenas em que a madrasta serve Pepe de jantar como punição à enteada, na sessão desconcertante de fotografias mortuárias após o falecimento de Villalta, prática comum durante o século 19 na Europa e nas Américas, além do desfecho triste e inquietante.
Talvez o menos fantasioso dentre todas as versões da Branca de Neve, virou um dos meus recentes favoritos.
Apesar de ser contra touradas, vejo que o diretor faz um belo retrato de seu país incluindo-as na trama, mostrando como a cultura da tauromaquia está fortemente associada à Península Ibérica, caracterizada desde a criação dos touros até a confecção dos trajes usados pelos participantes. O 'espetáculo' como é conhecido atualmente tem suas origens no Iluminismo entre os séculos 17 e 18, representando o domínio do homem (razão) sobre a força brutal e violenta do animal.
Noção obviamente invertida e bastante irônica...ao menos podemos dizer que aqui o touro tem sua vingança, afinal de contas.
O design do filme, encabeçado por Alain Bainée, com figurino de Paco Delgado e fotografia de Kiko de La Rica são impecáveis, além da trilha sonora fabulosa de Alfonso de Villalonga, com destaque para a canção original 'No Te Puedo Encontrar' na voz de Silvia Pérez Cruz. Todos estes elementos ajudam a contar a história sofrida de Carmen, vivida já moça por Macarena García, que provavelmente é a 'mais bela' e por que não, 'digna' de todas as Brancas; Afinal já estamos cansados de protagonistas e atrizes insossas. Olé.
Opa, pizza!
Wikipedia
http://www.imdb.com/
https://fairytalelandstories.wordpress.com
http://necro-dark.blogspot.com.br/
http://www.ocamundongo.com.br/
http://criticaretro.blogspot.com.br/
http://www.tor.com/
http://www.la-razon.com/
http://thefilmexperience.net/
http://ketutarwriting.blogspot.com.br/
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http://chicagomaroon.com/
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http://pt-br.disney.wikia.com/
http://www.planocritico.com/
http://foto.espm.br/
https://mountainx.com
https://culturaladob.wordpress.com/
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