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Ferngully

"Aren't you a little old to believe in human tales?"


Tendo iniciado sua carreira como animador em 1975, William Kroyer chegou nos estúdios Disney apenas dois anos depois, colaborando com O Cão e a Raposa (1981), mas demitiu-se em seguida por recusar-se a trabalhar em O Caldeirão Mágico (1985). Então ele conheceu Steven Lisberger, o diretor de Tron (1982), no qual ficou responsável juntamente com Jerry Rees pelas sequências de computação gráfica, técnica que continuou a focar-se nos anos seguintes. Após desenvolver os curtas Technological Threat (1988) - indicado ao Oscar - e Computer Warriors (1990), finalmente desenvolveu seu próprio longa em 1992: Ferngully: As Aventuras de Zak e Crysta na Floresta Tropical, a partir do livro de Diana Young.


"Our world was much larger then. The forest went on forever. We tree spirits nurtured the harmony of all living things, but our closest friends were humans."

De início o longa exibe belas imagens rupestres afim de narrar parte da história dos seres que habitam Ferngully, semelhantes aos típicos desenhos feitos pelos aborígenes, habitantes originais da Austrália e suas ilhas próximas. A arte ancestral foi amplamente usada por tribos pré-históricas locais que deixaram importantes registros pictóricos na figura de animais e caçadores nômades.

Australian Rainforest

O santuário fantástico caracterizado em Ferngully teve seus cenários baseados nas florestas tropicais da costa australiana, que contam com cerca de 900 mil hectares² e são consideradas umas das mais antigas do mundo, sendo abrigo de flora e fauna únicos por mais de 400 milhões de anos. Existem mais de 200 espécies raras de plantas protegidas pela World Heritage.

What's a machine?
It's a...thing. Cutting down trees.
That's terrible!
Only if you live in a tree.
I DO live in a tree!
Oh...


Os animais típicos da região são pássaros, sapos, peixes de rio doce, mamíferos, marsupiais, borboletas, répteis e morcegos; à exemplo do personagem Batty Koda - dublado por Robin Williams no áudio original, seu primeiro papel no mundo da animação -, um espécime atrapalhado que fugiu de um laboratório onde sofria experimentos biológicos.

"Humans can't feel anything, they're numb from the brain down"

mrw robin voice william ferngully

Outro local mágico é a caverna em que Crysta e Zak aparecem nadando e divertindo-se em clima romântico, muito provavelmente espelhada na Caverna Waitomo Glowworm, localizada na Ilha Norte da Nova Zelândia. Seu nome vem do Maori wai (água) e tomo (buraco), tendo sido formada por milhares de anos de correntes subterrâneas passando pelo calcário. Nas paredes constelações de larvas luminescentes (Arachnocampa luminosa) criam a ilusão de um espetacular céu noturno, graças à luciferina produzida para atrair presas.


A animação americo-australiana retrata fadas e outras criaturas mágicas que sofrem com o desmatamento iminente, tendo que lutar contra um perverso espírito libertado com a derrubada de uma antiga árvore local onde foi aprisionado em Eras passada; ser que incorpora juntamente à máquina de cortar árvores, a ambição desmedida do agronegócio e empresas extratoras de madeira. Logo no início do roteiro escrito por Jim Cox, Hexxus é descrito como encarnação da destruição e do caos, saído de um vulcão em atividade, que engole tudo que encontra pela frente e mais tarde toma forma graças à poluição de fumaças provocadas pelas máquinas industriais. O personagem lembra deuses mitológicos que habitavam o submundo e eram frequentemente associados à morte - dado sua caracterização ora como uma espécie de lama rastejante, ora como esqueleto negro - como Hades (Grécia), Masaw (Povo Hopi) e Elrik (Sibéria) ou ainda Hefesto (Grécia) devido às suas origens.


Extremamente importante para crianças e por que não, adultos, já que estes são os que muitas vezes parecem esquecer-se de suas raízes; a lição ambiental presente na trama é bela e 24 anos depois continua incrivelmente real, infelizmente; No entanto é claro que não podemos fazer uma distinção tão preto no branco quanto a animação, que coloca as forças da natureza como opostas, quando na realidade elas são complementares, tal qual as fábulas ancestrais as descrevem; citando o crítico Roger Ebert:

"A Natureza é a menos sentimental das criações. Ela é retratada mais precisamente naquele velho desenho que mostra uma fila de peixes, cada um menor que o seguinte, com suas bocas abertas, todos preparados para alegremente devorar um ao outro. É natural à todos os seres vivos alimentar-se de outros, de uma forma ou de outra, afim de sobreviver. Um feto é tão implacável quanto meu gato."


"Welcome to the food chain."

Alguns comparam o filme à Avatar (2009), defendendo que serviu de inspiração para a produção de James Cameron; ambas histórias tendo em comum um 'forasteiro' humano que aprende a amar os costumes e habitantes de um Éden no qual as árvores são entidades essenciais para o equilíbrio e manutenção da vida dos seres que vivem ali em harmonia, alheios à humanidade. Em Pandora, o povo Na'vi coexiste pacificamente com a exuberante fauna e flora, servindo de protetores do meio em que vivem e cultuando a Mãe Terra; já em Ferngully, as fadas exercem o protagonismo como guardiãs da floresta, ajudando-a à crescer através de seus poderes.


"For our children and our children's children"

Os anos 90 foram auge para inserção de temas ambientais em longas e animações - alguns que posso citar são a série Capitão Planeta (1990-96) criada por Ted Turner, Pocahontas (1995) e Princesa Mononoke (1997) - , que preocupavam-se em mostrar principalmente para as novas gerações a relevância de preservar o que nos resta de recursos naturais; espelhando conceitos que surgiram na década de 80 como o 'desenvolvimento sustentável', assim como documentos ou tratados importantes originados em Conferências e Comissões organizadas pela ONU. 

Fata e grifoni (1876), Gustave Moreau

Na cultura celta, onde o respeito e reverência pelo meio ambiente eram primordiais, os elementais eram tidos como criaturas do mundo espiritual, responsáveis por conduzir o poder divino nas diferentes formas assumidas pela natureza, como pedras e plantas. A mitologia carregada por célticos, germânicos, nórdicos e anglo-saxões relata fábulas fantásticas nas quais heróis se perdem no Outro Mundo, deparando-se com elfos, fadas, anões, etc. Também conhecidos como 'Velho Povo', as fadas tem origem nas regiões britânicas, irlandesas e escocesas, onde eram descritas como seres pacíficos e em comunhão com a Mãe Terra, indivíduos de proporções pequenas e pele escura, que utilizavam-se de flechas e dardos venenosos para caça e defesa; tal qual os Pictos, povos que habitavam a antiga Escócia antes dos celtas e que caracterizavam-se pela baixa estatura (cerca de um metro e meio) e tez morena, além de serem grandes guerreiros e peritos em camuflar-se na mata.


A Fairy Ring, Walter Jenks Morgan (1847-1924)

Tradições europeias reconhecem o fenômeno dos Anéis de Fadas - marcas de crescimento diferencial de vegetação, onde visualiza-se círculos formados geralmente por cogumelos - como resultado da ação destes seres mitológicos, citados nos trabalhos do investigador Walter Y. E. Wents: "As fadas existem e é nos anéis, onde às vezes, costuma-se vê-las dançar. A erva jamais cresce alta na borda do anel, pois é da espécie mais curta e fina. No centro crescem, em círculo, os cogumelos das fadas nos quais estas tomam assento." e do escritor Adrien Leroux : "Atribui-se a elas a criação dos círculos verdes brilhantes, chamados elfdans, que às vezes se vêem nos prados." 
Na Alemanha dizia-se que tais formações se davam na noite de Walpurgis, quando as bruxas saíam para dançar no campo; conhecidas na Itália por Cerchi delle Streghe (círculo das bruxas) e na língua catalã como Candeles de bruch (luzes das bruxas).

Superstição, crença infantil ou criaturas de dimensões paralelas, certamente temos algo significativo para assimilar das lendas cultivadas acerca do povo das fadas.



Fonte:
Wikipedia
http://factfile.org
http://www.hitfix.com
https://www.buzzfeed.com
http://www.rogerebert.com
http://www.tudoparaviajar.com
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http://valedomago.blogspot.com.br

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