Seguindo com minha lista de filmes lançados em 1992, escolhi um que mistura romance, aventura, guerra e drama épico, tudo isso em menos de 2 horas. Baseando-se na obra prima lançada em 1826 por James Fenimore Cooper, o diretor americano Michael Mann, conhecido por longas de ação como Caçador de Assassinos (1986), Ali (2001) e o mais recente Inimigos Públicos (2009), investiu em realizar um remake de O Último dos Moicanos, ambientado durante a Guerra Franco-Indígena (1754-63). A trama já havia sido adaptada diversas vezes para as telonas, inclusive em 1936, estrelando Randolph Scott, cujo roteiro serviu de inspiração para o romance histórico lembrado principalmente pelas atuações dos protagonistas Daniel Day Lewis (As Bruxas de Salém) e Madeleine Stowe (Blink).
Seus rivais, falantes da língua algonquina, autodenominavam-se muh-he-con-neok: "povo das águas que nunca param", apelidados pelos holandeses de Mohican (Moicanos); estes, por sua vez, chamavam os habitantes de Flint Maw Unk Lin (Povo-Urso), que transliterado para holandês tornou-se 'mohawk'. Inicialmente habitantes do Vale do Rio Hudson, os moicanos também foram apelidados como 'índios stockbridge', por estabelecerem-se na região após tensões com os mohawk, que fizeram-lhes migrar para o leste no final do século 17, ainda tendo migrado para Wisconsin, onde vivem até hoje, contando com cerca de 1500 habitantes.
Segundo o historiador Hugh Macdougall, o autor do famoso romance pesquisou sobre a Guerra Franco-Indígena e leu obras de autores contemporâneos sobre Índios Americanos, mas fez suposições errôneas em sua escrita, "Cooper disse mais tarde ter chamado o livro O Último dos Moicanos não porque ele não sabia que os Moicanos ainda estavam por ali, mas por terem sido a primeira tribo com a qual os brancos de Nova Iorque entraram em contato, e foram expulsos severamente da área." Assim o americano acreditava que eles seriam os primeiros a desaparecer do local, ajudando a disseminar ideias acerca da Expansão Ocidental, em uma época na qual escritores como Mark Twain defendiam abertamente a inferioridade indígena e a apreensão de suas terras nativas. A obra obteve sucesso ao narrar algumas das dificuldades vividas pelos índios norte-americanos, mas de qualquer modo, não é bem aceita pelos Moicanos; Molly Miller, presidente do comitê histórico pela Stockbridge-Munsee Community Band of Mohican Indians, comenta : "Quando falamos sobre isso, nós rimos porque é tão incorreto [...] Somos infames por causa do livro, mas temos que constantemente relatar nossa versão às pessoas. Nós ainda estamos aqui. O livro foi enganoso, estava errado, foi pobremente escrito e não tem muita relação conosco como povo, como tribo."
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Durante a Guerra dos Sete Anos, franceses e ingleses disputaram o controle comercial e marítimo sobre as colônias norte-americanas, terras originalmente habitadas por indígenas, os quais aliaram-se às duas potências - algonquinos e hurões à França e iroqueses à Grã-Bretanha. É aí que toma forma a trama do escritor americano, onde deslocam-se dois grupos distintos que acabam por encontrar-se mais tarde em situação hostil; o primeiro formado por Chingachgook (Russell Means), o último chefe da tribo dos moicanos, seu filho Uncas (Eric Scheweig) e o branco adotado Nathaniel 'olho-de-águia'; já no segundo segue o major britânico Duncan Heyward (Steven Waddington), com a tarefa de escoltar as filhas do coronel Edmund Muro (Maurice Roëves) até o forte onde ele se encontra; guiado por Magua (Wes Studi), um guerreiro nativo juramento aos Mohawk, que na verdade carrega desejo de vingança pela chacina comandada por ingleses que deu fim à sua família huroniana.
O termo Huron deriva da palavra francesa hure (brutamontes), claramente uma nomeação pejorativa criada pelos colonos vindos da França afim de explorar o Canadá, com os quais os huranianos estabeleceram relações que duraram vários anos. Quando entraram em contato com os primeiros europeus, esse povo era formado por cerca de 30 mil indígenas agricultores, que foram assolados por epidemias estrangeiras como sarampo e varíola, entre 1634-40, tendo seu número reduzido para menos da metade. O mesmo acometeu a tribo Mohawk - que identifica-se como Kanien'kehá:ka (Povo da Pedra de Flint) - distribuída principalmente entre Quebec no Canadá e o Estado de Nova Iorque, onde alguns ainda vivem atualmente. Como membros originais da Liga Iroquesa, eram conhecidos por serem Guardiões da Porta Oriental, lutando por centenas de anos contra invasores vindos desta direção, ganhando fama pelos métodos cruéis e violentos que exerciam em batalha, mortificando seus inimigos.
Mohawk (2003), Robert Griffing
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Estreando como ator na pele de Chingachgook, Russell Means também apareceu em Assassinos por Natureza (1994) e deu voz ao chefe Powhatan em Pocahontas (1995). Um dos principais ativistas do movimento indígena americano, foi responsável por liderar a ocupação armada da cidade de Wounded Knee em Dakota do Sul, no ano de 1973, além de envolver-se em várias polêmicas à favor da AIM (American Indian Moviment), organização criada nos anos 60 afim de defender os nativos subjugados pelo governo. Falecido em 2012, Means deixou a autobiografia "Where White Men Fear to Tread" (1996) como relato detalhado de sua luta pelos nativos norte-americanos e ainda suas incursões na política, pelo Partido Libertário; assim como a cultura matrilinear sob a qual foi criado, onde as mulheres eram proeminentes nos clãs indígenas.
Sim, é uma perspectiva de homens brancos sobre batalhas que afetaram diversas populações nativas, daquele clássico modo americano de retratar embates brutais sanitizadamente, onde os heróis ou personagens principais saem ilesos. Nenhuma surpresa aí, nem no fato do épico focar-se no interesse amoroso da inglesa Cora por um bonitão branco que foi criado sob costumes 'selvagens', diante da visão britânica. Leva alguns pontos pela personagem de Stowe, Cora Munro, seguir seus próprios instintos ao declinar o pedido de casamento feito por um homem que não lhe interessava; enfrentar a ira do pai ao dizer o que pensava sobre a prisão de Nathaniel, aproveitando para criticar sua posição quanto aos fazendeiros pobres da região; além de pegar em armas para defender a si e à irmã mais nova, Alice, vivida por Jodhi May (Entre Elas).
Não posso dizer que o filme de Mann é ruim, amparado pela belíssima cinematografia do diretor Dante Spinotti (Inimigos Públicos) e embalado pela primorosa trilha sonora assinada por Trevor Jones e Randy Edelman, - indicada ao Globo de Ouro e ao BAFTA em 1993 e lembrada pela marcante "Promontory", adaptada por Jones a partir de "The Gael" do multi-instrumentista escocês Dougie Macleane, utilizada de várias formas durante o filme. Aparentemente a produção foi bastante conturbada, devido ao prazo e verba estourados (acima de U$40 milhões), e pressão dos estúdios sobre o perfeccionista diretor americano. Como comentado pelo crítico Roger Ebert: "O Último dos Moicanos não é tão autêntico ou funcional como alega ser - mais próximo de uma fantasia matinal do que este gostaria de admitir - mas provavelmente é mais divertido como resultado".
Fonte:
Landscape Scene from The Last of the Mohicans (1827), Thomas Cole
Fica a reflexão sobre o quão desnecessária torna-se a guerra, movida principalmente pela "ganância por mais terra do que um homem pode utilizar", máxima presente no discurso de Hawkeye; além da perda de regiões naturais que no passado eram ocupadas por tribos indígenas em harmonia com os animais e seu entorno, dando lugar em grande parte ao industrialismo e comércio que regem o sistema social nos dias de hoje.
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